Abrindo portas
O começo de um romance é uma porta que se abre para um estranho e é preciso saber muito bem o que você quer mostrar primeiro
Decidi escrever um diário de escrita do meu novo romance.
Quando pensei no que escrever nesta primeira postagem, imaginei em falar sobre as primeiras frases. Afinal, assim como você se aproxima de meu processo aqui, as primeiras frases de um romance também são um tipo de convite à aproximação.
Eu sou fascinado por frases de abertura. Acredito que, mesmo o romance sendo um gênero que exige fôlego e que tem muitas idas e vindas, altos e baixos, seu início deve condensar tanto a potência de seu tema como antecipar a forma que os leitores e leitoras encontrarão ao longo da narrativa. As primeiras frases são essenciais, nesse sentido.
O livro em que estou trabalhando, cujo título ainda não posso revelar, surgiu numa bifurcação. Em algum momento, durante o processo de escrita de meu último romance, Emilio, percebi que parte da história que estava contando já não pertencia àquele núcleo de personagens, que estava dando uma volta muito grande para chegar ao ponto central da narrativa.
A essa altura, decidi guardar todas as páginas que já havia escrito, salvando algumas poucas que ainda faziam sentido para a versão em que estava trabalhando. Essas páginas engavetadas continham a semente do que seria o romance atual, mas seu começo ainda era um desafio. Aliás, ainda é. E por quê?
As perguntas sem resposta
Porque começar um romance é como abrir a porta de sua casa a um estranho. É preciso estar muito seguro sobre o que você quer mostrar primeiro, qual a primeira impressão que você quer causar. Por isso, os detalhes dessa primeira frase, desse primeiro parágrafo, vá lá, são tão importantes para mim. Aí, surgem as perguntas.
Que símbolos aparecerão nesse começo? Haverá algo que só fará sentido mais adiante? O fim e o começo se conectarão? De que forma? Qual o ritmo quero impor? Devo começar in media res ou preparar mais o leitor para o universo em que ele está entrando? A festa já terá começado ou estaremos só nos preparativos? Como será a luz desse ambiente? Quero a penumbra ou luz de led? Como isso se relaciona com o tema que estou tratando? Aliás, já sei o tema que quero tratar, de verdade, ou ele só vai aparecer mais adiante, no processo?
Posso dizer que, no momento, tenho poucas respostas. Em breve conversamos mais sobre isso. É só o começo. Vem comigo?
P.S: Sempre vou deixar uns easter eggs no meio do caminho. A imagem que usei para este post, por exemplo, é de um peixe, que terá papel crucial na trama. E se quiser enviar para alguém este post, clique no botão abaixo